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11 de mar. de 2014

Bioasfalto sustentável é feito com óleo de cozinha usado

Bioasfalto sustentável é feito com óleo de cozinha usado



Redação do Site Inovação Tecnológica - 10/03/2014

Bioasfalto sustentável é feito com óleo de cozinha usado

O pesquisador mostra o piche feito de óleo de cozinha usado (esquerda) e o bioasfalto resultante (direita). [Imagem: Washington State University]
É possível fabricar "asfalto verde" com as mesmas propriedades do asfalto à base de petróleo.
Usando óleo de cozinha usado, Haifang Wen, da Universidade do Estado de Washington, nos Estados Unidos, demonstrou que o conceito de bioasfalto é tão promissor que ele já se prepara para colocar o projeto em prática.
"A partir de junho de 2014 vamos construir uma estrada com bioasfalto com cerca de 500 metros, disse Wen.
Além de criar uma destinação para o óleo de cozinha usado, a técnica reduz o preço da pavimentação depois que os preços do asfalto dispararam..
Atualmente, uma tonelada do piche que funciona como ligante para o asfalto já custa cerca de metade do preço de uma tonelada de gasolina.
Em vista disso, árias tentativas estão sendo feitas para substituir o petróleo por óleo vegetal no asfalto, usando borracha de pneus usadoslignina, óleo de milho e até esterco de porco.
Bioasfalto
O asfalto tradicional usa o chamado piche como cola para manter unidos a brita e a areia que formam a maior parte do pavimento - o piche representa apenas 5% da mistura final.
Depois de quatro anos "ajustando a receita", Wen está confiante que o seu "asfalto verde e sustentável" é tão bom quanto o asfalto de petróleo.
O material passou com sucesso por todos os testes de avaliação mecânica, incluindo compressão e carga, além de variações de temperatura que foram do calor intenso ao congelamento durante o inverno.
Se tudo se confirmar na estrada de testes, o pesquisador afirma que a tecnologia está pronta para ser utilizada em larga escala.

24 de ago. de 2012

PROJETO INOVADOR COM A UDESC, TRANSFORMA CONCHAS EM MATERIAL PRECIOSO PARA CONSTRUÇÃO CIVIL

Santa Catarina produz uma grande quantidade de mariscos e ostras, mas ainda não tem uma boa solução para as conchas. Os mariscos ou mexilhões geralmente são vendidos pré-cozidos, descascados e congelados e, portanto, as conchas se amontoam nas usinas de beneficiamento. Já as ostras são distribuídas vivas e inteiras, logo as conchas são um problema para restaurantese consumidores finais.

 

Em média, as conchas correspondem a 80% do peso dos mariscos, de modo que a uma produção anual de 13 mil toneladas _ como a de Santa Catarina em 2008 - corresponde um monte de resíduos com mais de 10 mil toneladas. Muitas vezes esses resíduos acabam no lixo comum ou, pior, entulham o litoral e os cursos d’água.

 

Na tentativa de eliminar o problema e ainda gerar uma nova fonte de renda para os maricultores, um grupo de pesquisadoras estudou a viabilidade técnica de transformar esse lixo em matéria prima. A pesquisa foi objeto do mestrado de Michele Regina Rosa Hamestera em Engenharia Mecânica (2010), e do projeto de iniciação científica de Bruna Louise Silva, ambas do Instituto Superior Tupy (IST), com orientação da química Palova Santos Balzer, do IST, e da engenheira química Daniela Becker, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), ambas com doutorado em Engenharia de Materiais.

 

“As conchas de mariscos e ostras são compostas basicamente por carbonato de cálcio, um mineral empregado como carga de enchimento na produção de compósitos plásticos, como o polipropileno utilizado em embalagens e o PVC de tubulações, conduítes e perfis, usados na construção civil”, explica Daniela. O recurso de adotar carga de enchimento visa reduzir custos, porém a matéria prima utilizada deve ter certas características, de modo a não alterar as propriedades do produto final.

 

O carbonato de cálcio empregado na fabricação de compósitos plásticos normalmente vem de jazidas minerais, mas o estudo das pesquisadoras catarinenses mostrou a viabilidade de usar fontes biológicas: as conchas de mariscos e ostras.

“Obtivemos as conchas em usinas de beneficiamento e em alguns restaurantes, graças ao apoio de técnicos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri)”, acrescenta a engenheira da Udesc. “Desenvolvemos um processo bem simples, sem uso de químicos, apenas com moagem e queima (para retirar restos orgânicos), de modo a viabilizar sua adoção nas próprias usinas de beneficiamento dos mariscos, sem risco de causar poluição”.

Os pós de carbonato de cálcio obtidos têm uma coloração mais cinzenta do que o mineral das jazidas, sendo que o das ostras é mais claro e o dos mariscos, mais escuro. Mas os dois foram aprovados quanto às propriedades técnicas.

Segundo relata Daniela Becker, foram produzidas pequenas peças de polipropileno e PVC com o pó das conchas, depois submetidas a testes mecânicos (tração, torção, resistência) e de temperatura (fusão, cristalização). “Os resultados obtidos mostraram o mesmo comportamento dos compósitos feitos com material comercial, confirmando a viabilidade técnica do processo”, diz. A viabilidade econômica não foi avaliada, mas será o próximo passo, a cargo dos maricultores.

A pesquisa foi realizada no decorrer de dois anos e apenas a aluna de iniciação científica, Bruna Silva, contou com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (Fapesc). O mestrado foi financiado com recursos particulares.

Em resumo, uma ideia simples, bem pensada e bem testada, pode resultar em uma alternativa inteligente e sustentável de reciclagem de resíduos, gerando até uma fonte adicional de renda para quem trabalha com ostras e mariscos. Nada como uma boa dose de Ciência e Tecnologia para fazer das conchas novos produtos!

Fotos: Michele Hamestera (ao alto: concha de ostra à esq. e de mariscos à dir. e abaixo, da esq. para a dir.: carbonato de cálcio de jazida, de conchas de ostras e de conchas de mariscos) ( fonte: Revista Fapesc e www.projetoconchas.ufsc.br/.../1210425132.PDF)

21 de ago. de 2012

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E OS 'CÉTICOS' - JOSÉ GOLDEMBERG

 

Por incrível que pareça, estamos atravessando, neste início do século 21, uma onda de obscurantismo cultural e científico sem precedentes. Ela tem origem, principalmente, nos Estados Unidos, mas está se propagando pelo restante do mundo.

 

Ao mesmo tempo que os físicos estão conseguindo desvendar os mistérios da natureza com a descoberta do bóson de Higgs – “a partícula de Deus” -, a cientologia avança nos Estados Unidos e a teoria da evolução de Darwin é questionada nas escolas de vários Estados daquele país.

 

Algumas dessas crenças têm origem em pequenos grupos religiosos retrógrados que exploram a boa-fé de pessoas de baixo nível educacional, mas outras têm, claramente, motivações mais perversas e até interesses comerciais. A cientologia, em particular, é considerada uma religião nos Estados Unidos, sendo, portanto, isenta do pagamento de impostos. Alguns de seus ensinamentos atingem o nível do absurdo ao afirmarem que bilhões de seres de outras galáxias se apossaram dos seres humanos há dezenas de milhões de anos, quando ainda nem havia seres humanos, e continuam neles até hoje.

 

O que elas todas têm em comum, contudo, é o completo desconhecimento do que é ciência. Isso é o que está ocorrendo no momento também com os “céticos” que questionam o fato notório de que a ação do homem está provocando o aquecimento do planeta.

 

As bases científicas do aquecimento da Terra são simples: desde o início da Revolução Industrial, no início do século 19, os seres humanos passaram a consumir quantidades crescentes de combustíveis fósseis – carvão mineral, petróleo e gás natural -, cujo resultado é a produção de um gás, o dióxido de carbono (CO2), que é lançado na atmosfera, onde permanece por um longo período de tempo. Sucede que esse gás é transparente e deixa a luz solar passar, atingindo o solo e aquecendo-o. O normal seria esse calor voltar para o espaço, porém isso não ocorre porque o dióxido de carbono não deixa o calor passar e voltar para o espaço. Com isso, todo o nosso planeta está ficando mais quente, como se verifica numa estufa onde se criam rosas ou vegetais no inverno.

 

Há muitas outras causas conhecidas para o aquecimento global, como as manchas solares, a inclinação do eixo da Terra, as erupções vulcânicas, etc. De fato, ao longo da existência do planeta – que se estende por bilhões de anos – houve grandes variações na temperatura e elas são bem entendidas pelos geólogos.

 

Acontece que, sobrepondo-se a essas causas naturais do aquecimento, existe a ação do homem, que consome combustíveis fósseis e lança gases na atmosfera. Esse fenômeno tem sido estudado por um grande número de cientistas há mais de 50 anos.

 

Para entender o que aconteceu até agora e tentar prever o que vai acontecer nas próximas décadas os cientistas construíram modelos de como o clima da Terra se comporta à medida que o tempo passa e a atmosfera se modifica com mais dióxido de carbono, originado da queima dos citados combustíveis fósseis. Nesses modelos, o que se faz é relacionar causa e efeito, que é a maneira como a ciência funciona. A causa é a presença de maiores quantidades de gases na atmosfera e o efeito, o aquecimento resultante do nosso planeta.

Há incertezas nas previsões científicas, mas com o passar do tempo elas estão ficando cada vez mais confiáveis e precisas. Por exemplo, James Lovelock, ídolo dos ambientalistas por suas ideias sobre a “hipótese Gaia” – que considera a Terra toda com características de um ser vivo -, não questiona a realidade do aquecimento global como resultado da ação do homem, mas sim a necessidade de mais pesquisa sobre o tema.

 

É contra essas evidências que se manifestam os “céticos”, cuja motivação não é clara. Alguns o fazem para atrair a atenção do público e outros podem estar sendo estimulados pelas indústrias que serão prejudicadas caso seja limitado o uso de combustíveis fósseis, que tem sido proposto por vários países.

 

Esses “céticos” não adotam o método científico ao fazerem as suas críticas. Eles simplesmente emitem opiniões e previsões esdrúxulas, como a de que a Terra estaria passando por um processo de resfriamento, em lugar de se aquecer, num futuro que eles não especificam. Cartomantes podem fazer isso, mas não cientistas.

 

Os “céticos”, a maioria deles sem formação científica na área de mudanças climáticas, conseguiram notoriedade nos Estados Unidos publicando artigos no Wall Street Journal (!). Alguns jornalistas mal informados frequentemente dão grande cobertura a essas pessoas porque elas provocam controvérsias que atraem os leitores. Para alguns, é considerado bom jornalismo que “se ouçam os dois lados”, o que é válido para muitos outros assuntos, como, por exemplo, a descriminalização da maconha ou as vantagens da introdução da pena capital para crimes hediondos, em relação aos quais existem opiniões divergentes.

 

Sucede que no caso do aquecimento global não há “dois lados”: o que existe são previsões científicas baseadas na ciência que conhecemos, que podem não ser perfeitas – como é todo o conhecimento científico -, mas têm avançado muito. O “outro lado”, de modo geral, utiliza informações pseudocientíficas, ou simplesmente dúvidas lançadas ao vento que não podem ser respondidas sem uma argumentação científica que não é adequada para programas populares.

 

Opiniões pessoais ou crenças religiosas devem ser respeitadas, mas argumentos incorretos que prejudicam a adoção de políticas públicas importantes – como as de prevenir o aquecimento da Terra reduzindo o consumo de combustíveis fósseis – são perniciosos e não atendem ao interesse público.

 

JOSÉ GOLDEMBERG É PROFESSOR EMÉRITO E EX-REITOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO GOVERNO FEDERAL E DO ESTADO DE SÃO PAULO  - Artigo originalmente publicado em O Estado de S.Paulo/EcoDebate, 21/08/2012 - http://www.ecodebate.com.br/2012/08/21/mudancas-climaticas-e-os-ceticos-artigo-de-jose-goldemberg/

 

 

STJ IMPEDE LEVANTAMENTO DE ESTOQUES, TRANSPORTE, COMERCIALIZAÇÃO, EXPORTAÇÃO E CORTE DE MOGNO

AMBIENTE E ECONOMIA

 

A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reformou decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) e cassou mandado de segurança que garantia a madeireira o direito de trabalhar mogno, em tese, já derrubado antes da edição de norma vedando essa atividade.

 

Para o ministro Humberto Martins, o entendimento do tribunal de origem, de que a Instrução Normativa 03/98 não poderia retroagir para alcançar madeira já derrubada quando de sua edição, esvazia a finalidade do ato administrativo.

 

 “É a própria hipótese de incidência da instrução normativa que determina a sua aplicação às madeiras que já haviam sido derrubadas. Entender pela inaplicabilidade é reconhecer a ilegalidade e inconstitucionalidade, pelo menos em parte, da IN 03/98, o que não deve ser aceito, pois há total compatibilidade entre a norma e o ordenamento jurídico”, afirmou.

 

Ele esclareceu que a norma é amparada pela Lei 4.771/65 e pela Constituição Federal. “As restrições à atividade econômica em virtude de atos do poder público tendentes a proteger o meio ambiente encontram respaldo constitucional, decorrendo daí a plena compatibilidade entre a IN 03/98 e o ordenamento jurídico”, completou o relator. Para ele, a proteção ao meio ambiente é um princípio que rege a ordem econômica constitucional. ( STJ- Coordenadoria de Editoria e Imprensa)

20 de ago. de 2012

USP CRIA APARELHO QUE TRATA ESGOTO DOMÉSTICO E METAIS PESADOS

O protótipo tem capacidade para 4,5 litros. Foto: Blog do Mílton Jung

 

A Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP criou o Reator de Leito Ordenado, aparelho que possibilita o tratamento simultâneo do esgoto doméstico e de metais pesados, a exemplo do cobre e do cádmio. O protótipo tem capacidade para 4,5 litros e o reator em escala piloto teria capacidade de cerca de 6m3.

 

De acordo com o engenheiro Gustavo Mockaitis, que participou do estudo para o desenvolvimento do aparelho, a ideia inicial era analisar um processo biológico que tivesse influência na recuperação de metais pesados.  “De início pensamos no tratamento dos efluentes de mineração, as chamadas águas residuárias de drenagem ácida. Trata-se de um líquido que não possui matéria orgânica”, explicou à Exame.

 

A pesquisa tomou rumo diferente após os cientistas perceberem que, nas diversas águas residuárias que possam conter estes metais, as quantidades são muito variáveis. A partir da descoberta, os pesquisadores decidiram utilizar um efluente mais constante, ou seja, com as mesmas concentrações de materiais, principalmente orgânicos. “Passamos a usar o esgoto doméstico sintético onde foram adicionadas, gradativamente, concentrações de cádmio e cobre até onde o reator pudesse tratar o esgoto”, descreveu Mockaitis.

 

Se realizado com um reator convencional de leito fluidificado, o consumo de energia aumenta. Por isso, “desenvolvemos o protótipo de um Reator de Leito Ordenado, mais econômico em termos de consumo de energia. Ele tem algumas configurações semelhantes a reatores convencionais, mas pode ser mais econômico”, revelou o engenheiro.

 

Depois do tratamento, o líquido que sai pela parte superior do reator, possui carga  orgânica baixa e que não chega a ser prejudicial ao meio ambiente, dependendo da extensão da contaminação por metais pesados na água a ser tratada. * Publicado originalmente no site EcoD.

 

 

CFES - NE REALIZA O I SEMINÁRIO NORDESTINO DE EDUCAÇÃO POPULAR E ECONOMIA SOLIDÁRIA

O Centro de Formação em Economia Solidária do Nordeste (CFES-NE) realiza no dia 21 de agosto, o evento “I Seminário Nordestino de Educação Popular e Economia Solidária”, tendo como tema “Educação Popular e Formação de Educadores e Educadoras na Construção da Sustentabilidade”. (Link.: Leia a íntegra em: www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=7058&Itemid=1)

 

 

O METABOLISMO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Metade da população mundial encontra-se hoje em 19 países asiáticos, cujas economias foram estudadas pelo Sustainable Europe Research Institute (Seri) de Viena com base numa pergunta decisiva para o desenvolvimento sustentável: em que consiste o metabolismo que estas sociedades estabelecem com a natureza?

 

Trata-se de saber como são usadas as bases materiais em que se apoia a oferta de bens e serviços que compõem a riqueza de diferentes países. Para isso, são estudados quatro tipos de materiais absolutamente indispensáveis para a vida moderna: biomassa, energias fósseis, minerais e produtos metálicos. São produtos cuja oferta não é infinita e cuja utilização aumenta com a população e a riqueza.

 

O caráter limitado de sua oferta exige que se coloquem duas questões fundamentais quanto ao seu uso: a primeira refere-se à eficiência com que são extraídos da superfície terrestre, transformados, utilizados e, quando for o caso, reutilizados ou reciclados. Nas sociedades contemporâneas, parte cada vez mais significativa das inovações tecnológicas volta-se para a redução da energia empregada na obtenção destes materiais, a diminuição de sua presença nos diferentes produtos e a ampliação das chances de sua reutilização. Este é o objetivo fundamental dos sistemas de inovação focados na sustentabilidade.

 

Mas há uma segunda questão central que não pode ser evitada diante da escassez relativa dos materiais de que depende a vida social: a que finalidade sua utilização se destina? Que grupos sociais são principalmente beneficiados com seu uso? Quais seus efeitos globais sobre o bem-estar da espécie humana?

 

Os 19 países asiáticos estudados pelo Seri compreendem 90% da população asiática (sem contar a Rússia e os antigos componentes da União Soviética) e 20% do PIB mundial. São imensas as desigualdades entre eles, já que na lista estão Japão, Coreia, Israel, Cingapura, mas também China, Índia, Indonésia, Bangladesh, Tailândia e Paquistão. Como é a região de maior crescimento econômico do mundo, seu metabolismo social é uma das mais importantes questões globais da atualidade.

Em 2005, o consumo dessa metade da população mundial exigia que se retirassem da superfície terrestre, anualmente, 18 bilhões de toneladas destes quatro tipos de materiais (biomassa, minérios, metais e combustíveis fósseis). Este total era de nove bilhões de toneladas em 1985. Na época, esses países consumiam 22% dos recursos mundiais, proporção que passa para 31% em 2005. A Ásia é hoje o centro da economia mundial, não só em termos de crescimento econômico e consumo, mas também é a região em que mais se eleva o ritmo de utilização de materiais e energia. E essa utilização é marcada por uma dupla desigualdade, sem cujo enfrentamento é impossível sequer conceber a ideia de desenvolvimento sustentável.

A primeira refere-se à quantidade de materiais utilizada pelos indivíduos e pelas diferentes economias. Enquanto Japão, Cingapura, Israel e Coreia têm média de 11 a 15 toneladas per capita de extração de materiais, Bangladesh não vai além de 1,1, a Índia fica em torno de 2,8, e a China atinge 6,2 toneladas per capita. A média europeia é próxima à dos mais desenvolvidos países asiáticos, e a do Canadá e dos Estados Unidos chega a 25 toneladas per capita. Não há como ampliar a infraestrutura desses últimos países sem que aumentem os materiais de que depende a construção de novas estradas, fábricas, hospitais, bibliotecas, enfim, das condições indispensáveis para o próprio desenvolvimento. Ao mesmo tempo, como imaginar que este uso chegue ao nível dos países desenvolvidos sem exaustão destes recursos?

 

Daí a importância de uma segunda desigualdade, cujas bases são as diferenças de avanço científico e tecnológico entre os países: a mesma quantidade de materiais pode resultar em utilidades muito maiores a depender da maneira e das finalidades com que são empregados. Em outras palavras, a produtividade material das economias é muito variada. No Japão, cada tonelada de material consumida resulta na produção de quase US$ 2,5 mil. Na média asiática, este valor vai pouco além de US$ 500 e na média mundial fica aquém de US$ 650. Sistemas de inovação voltados para a sustentabilidade têm justamente a função de permitir que a mesma unidade de materiais se exprima em quantidade cada vez maior de riqueza. Isto se obtém pela ampliação na própria eficiência com que os materiais são empregados. Aumentar a produtividade dos recursos é, certamente, uma das bases do desenvolvimento sustentável.

 

E neste particular, o trabalho do Seri apresenta duas conclusões preocupantes. Em primeiro lugar, nos países que mais crescem neste conjunto asiático, o uso de recursos acompanha pari passu a própria ampliação na oferta de bens e serviços: o crescimento não se emancipa, não se descola de sua dependência com relação aos bens materiais finitos dos quais ele depende. E a segunda conclusão é que parte da capacidade, que tiveram os países mais ricos de descasar relativamente seu crescimento dessas bases materiais, deriva de avanço científico e tecnológico, mas também do fato de que suas indústrias mais sujas e pesadas foram transferidas para nações mais pobres.

 

O resultado é que, por mais importante que sejam as inovações tecnológicas na emergência do desenvolvimento sustentável, será necessário igualmente discutir a que finalidades e com que benefícios sociais são usados os recursos ecossistêmicos em que o crescimento econômico se apoia. Utilizar ferro, plástico, borracha e vidro para produzir automóveis que congestionam as regiões metropolitanas, e usar terra, adubos e agrotóxicos para oferecer alimentos que resultam em crescente obesidade são formas cada vez menos admissíveis de estimular as atividades capazes de garantir sucesso na luta contra a pobreza. Na raiz das doenças metabólicas das sociedades contemporâneas, está o próprio sentido de suas atividades econômicas.

 

Esses temas serão discutidos por Eduardo Giannetti da Fonseca, Ladislau Dowbor e Matthew Shirts, por ocasião do lançamento de Muito Além da Economia Verde, no dia 20 de agosto, às 19 horas, no Teatro Eva Herz, no Conjunto Nacional, em São Paulo. (*)Ricardo Abramovay é professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e do Instituto de Relações Internacionais (IRI), ambos da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fapesp, e autor de Muito Além da Economia Verde, lançado na Rio+20 pela Editora Planeta Sustentável.